A história de Rafael Bezerra Duarte, um enfermeiro que cresceu em uma comunidade rural do interior do Ceará e hoje dedica sua vida a transformar a realidade de idosos em sua cidade natal, ganha destaque no cenário estadual. Filho de um agricultor e uma dona de casa vendedora autônoma, Rafael enfrentou os desafios do ensino público e, com esforço, tornou-se um exemplo de superação e retorno à sociedade.
Natural do sítio Coelho, zona rural de Icó, Rafael estudou na Escola Estadual Vivina Monteiro antes de ingressar no ensino superior e se formar em Enfermagem. Sua trajetória é marcada pelo sonho de retribuir à comunidade as oportunidades que conquistou. Com isso, ele idealizou o projeto “Universidade para a Melhor Idade”, um programa que leva conhecimento e inclusão a idosos acima dos 55 anos.
Educação inclusiva na terceira idade
O programa, que começou em 2018, já formou uma turma de 60 alunos, e outra está em andamento. Em parceria com uma instituição de ensino superior, os participantes têm aulas de disciplinas diversas – de fisioterapia e administração a direitos da pessoa idosa e empreendedorismo. As aulas, realizadas duas vezes por semana, são adaptadas para oferecer um aprendizado prático e inclusivo.
Para Rafael, a iniciativa preenche um vazio na vida de muitos idosos que vivem isolados. “Criar espaços de aprendizado e convivência é uma forma de fortalecer a autoestima e o senso de participação na sociedade”, afirma.
Josineide Bandeira, de 55 anos, aluna atual do programa e filha de uma participante da primeira turma, destaca os benefícios: “Estar aqui é maravilhoso. Vivo sozinha em casa, e o curso não só ensina, como nos conecta a outras pessoas. Isso mudou minha vida e me trouxe alegria.”
Transformação comunitária através da educação
O programa, totalmente voluntário e gratuito, inclui uma colação de grau simbólica, fortalecendo o sentimento de conquista dos alunos. Os idosos, vindos tanto da sede do município quanto da zona rural, chegam às aulas em transporte oferecido por familiares ou pela prefeitura, refletindo o engajamento coletivo no projeto.
Rafael considera a ação um fruto direto de sua história. Durante a graduação, criou projetos pioneiros, como a “adoção de idosos”, em que estudantes de saúde identificavam necessidades em comunidades carentes. Mais tarde, como professor universitário, passou a liderar disciplinas voltadas à saúde da população idosa, transformando essas vivências em projetos sociais concretos.
Hoje, além de coordenar o programa, Rafael cursa um doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), dando continuidade à sua missão de promover mudanças sociais por meio da educação.
“Um futuro mais digno para a melhor idade”
Segundo a diretora da Escola Vivina Monteiro, Talita Lima da Silva, que acompanhou Rafael em diferentes momentos de sua formação, o impacto de suas iniciativas vai além do ensino. “Rafael sempre foi comprometido com o bem coletivo. Ele está ressignificando o papel da educação na terceira idade e inspirando novos projetos.”
Com o apoio de parceiros locais e a dedicação de professores voluntários, Rafael sonha expandir o programa e, talvez, até criar uma versão de “pós-graduação” para os formados. “Educação é um meio poderoso para transformar realidades. Ver a felicidade e o empoderamento desses idosos é a maior recompensa do meu trabalho”, conclui o enfermeiro.